Como as filosofias se leem? Como dois autores, separados por séculos, conseguem dialogar e intercambiar suas reflexões? Como um filósofo do século XX, em pleno pós-Segunda Guerra Mundial, consegue encontrar em um filósofo do século XVII novas questõe s e problemas que merecem ser retomados e desenvolvidos na contemporaneidade? Como as teses de um filósofo, consolidadas, testadas e provadas, podem se tornar novas perguntas e suscitar novas reflexões séculos após sua publicação?
A proposta deste l ivro é retomar a leitura que Merleau-Ponty faz das obras de Descartes para além da alternativa entre ruptura e continuidade. É analisar como o filósofo contemporâneo, ao problematizar as ideias clássicas do pensamento cartesiano, encontra em suas lac unas e imprecisões o material para a elaboração de seu pensamento. Mais do que isso, trata-se de repensar o cartesianismo não sob as lentes da mera crítica, mas, a partir da exploração de suas controvérsias, trilhar o caminho para uma ontologia que d ê conta dos problemas de nossa época e de nossa cultura.
Mais do que isso, trata-se de um trabalho genuíno de História da Filosofia. O que é o exercício de filosofar senão uma leitura atenta, criteriosa e minuciosa, dos grandes pensadores e de como eles pensaram e responderam às questões mais polêmicas das suas respectivas épocas?