• JUÓ BANANÉRE: IRRISOR, IRRISÓRIO

Quem é e como é esse tal de Juó Bananére? Um narrador e personagem – quem sabe um heterônimo – ou simples pseudônimo de um escritor ocultado que fala por outro e por si mesmo? Qual seria, afinal, o estatuto da representação dessa espécie de persona q ue, ao que tudo indica, ganhou autonomia, quase plena, frente a seu inventor?

Parece que Juó Bananére tornou-se ele mesmo um “sujeito literário”, ou um “ser da escrita”, pois inventado por Alexandre Marcondes Machado acabou por reinventar seu inve ntor como escritor. Talvez se possa dizer que na escritura cômica e macarrônica brasileira existe Juó Bananére e não Alexandre Marcondes Machado.

Fenômeno semelhante acontece com o Barão de Itararé e seu inventor Aparício Torelly, além de alguns o utros, que trabalham com o gênero cômico popular. Isso indica que o cômico popular – que tem origem nas festas coletivas, nas práticas de expropriação, ocultação e hibridização de materiais, nas combinações disparatadas e arbitrárias – quando se real iza na escrita contamina-a com essa “lógica” diversa e a transforma em “outra coisa”, que não o padrão erudito e seu aparato de poder.

Juó Bananére irrisor, irrisório de Carlos Eduardo Schmidt Capela, com seu acuradíssimo estudo inicial e a magníf ica antologia que o segue, dá conta das dimensões problemáticas, e também criativas e inventivas, da escritura do principal cômico-macarrônico brasileiro, em quantidade e qualidade.

Colaborando intensamente em O Pirralho, a revista paulistana cria da por Oswald de Andrade e amigos, juntando charges e caricaturas de Voltolino, desde 1911, continua até 1917 e nos anos seguintes em outras publicações humorísticas de teor semelhante (O Queixoso, A Vespa, A Manha, esta do Barão de Itararé) só finda ndo com a morte de Alexandre Marcondes Machado, em 1933.

A força humorística e satírica do cômico macarrônico institui sua autonomia frente ao cânone erudito e os padrões de leitura deste não servem e não dão conta desse corpo estranho no mundo da escrita. Isso lembra os problemas de leitura da obra do Marquês de Sade (este por diverso motivo).

Assim, Juó Bananére, sendo moderno pelas inúmeras implicações sociais e de linguagem de sua escrita, não pode ser visto como “precursor” do moderni smo erudito da Semana de 1922. O estatuto de sua representação é bem outro. E, falando com radicalidade, seu italiano imigrante pobre em São Paulo – e os ítalo-paulistas – aparece como uma espécie viva e monstruosa de bagaço social e cultural. E essa

Código: L020-9788577510450
Código de barras: 9788577510450
Peso (kg): 0,800
Altura (cm): 23,00
Largura (cm): 16,00
Espessura (cm): 3,00
Autor S., CAPELA
Editora NANKIN EDITORIAL
Idioma Português
Encadernação CAPA DURA
Páginas 536
Ano de edição 2009

Escreva um comentário

Você deve acessar ou cadastrar-se para comentar.

JUÓ BANANÉRE: IRRISOR, IRRISÓRIO