A história de São Paulo, embora relativamente breve, é multifacetada, cheia de episódios e encadeamentos pouco conhecidos. A formação multicultural do estado lhe empresta um caráter cosmopolita, que contrasta com o desenvolvimento quase provinciano d e seus principais núcleos formadores, isolados e autocontidos. Com o tempo e com o encurtamento das distâncias, este caráter cosmopolita foi sendo ressaltado, e sua história foi estudada geralmente a partir dessa visão abrangente, perdendo-se com iss o diversos episódios e relatos que, embora mais restritos, explicam de uma forma mais humanizada a formação de seu caráter e de seus contrastes.
O Arquivo Souza Barros, aqui apresentado, mostra a partir de pesquisas acadêmicas e de documentos e rela tos familiares que passaram de geração a geração, o desenvolvimento do atual Estado de São Paulo, sob a perspectiva de uma antiga família participante dessa história. O livro mostra bem a mentalidade de parte da elite do estado, que foi se modificand o ao logo do tempo, bem como as influências recebidas principalmente da Europa na formação da cultura paulista.

Ao organizarmos nosso arquivo familiar, o intuito foi apresentar a história da família às novas gerações e, também, esclarecer algumas visões distorcidas de fatos da colonização portuguesa do Brasil em particular, do tipo de colonizadores que aqui aportaram no período de cerca de trinta anos, em que a atividade econômica do país era puramente extrativista, especialmente do pau-bras il. Nessa época, houve um esforço, embora pouco producente, de empregar mão de obra indígena para o corte e o transporte da madeira, até seu embarque. No entanto, nessa atividade iniciante da colonização, possivelmente foi empregada mão de obra de de gredados portugueses transportados pelas naus para o Brasil. Sobre esse curto período pouco se tem comentado. Não há informações consistentes quanto à composição da população dessa época. Assim, seria cometer um anacronismo qualificar socialmente de “degredado”, por exemplo, o grupo dos que vieram para cá com Martim Afonso de Souza, em 1532, pois, na verdade, eram os reinóis que se tornaram os primeiros donatários em terras brasileiras fidalgos que dispunham de recursos financeiros necessários para formar lavouras de cana para a fabricação de açúcar. A partir dessa data, o critério de distribuição de terras pela Coroa Portuguesa, que levava em conta somente quem tivesse recursos para explorá-la, foi mantido até o final dos anos oitocentos,