• Trio pagão

Neste novo livro, o poeta Sérgio Medeiros reúne três propostas distintas que transitam pela expressão gráfica e pela expressão verbal. Todas, porém, falam de um momento de crise e de renascimento, num universo em exaustão. Na primeira delas, “Caligra fias de esculturas”,  Medeiros recupera a escrita fantasiosa de Jerônimo Tsawé, um índio xavante que lhe deixou de herança uma folha coberta de linhas sinuosas que são exercícios de caligrafia. Relendo à sua maneira esses traços, o poeta cria tot ens gráficos que lembram objetos do universo xavante, como lianas, fumaça, linhas de pescar etc., os quais revelam uma nova maneira de comunicação entre o presente  e o passado, por meio de signos que cruzam verticalmente na página, unindo os ex tremos. Na segunda proposta, “Enrique Flor, o novo”, é a herança joyciana que é trazida à tona, numa homenagem à arte do músico português Enrique Flor, inventado pelo mestre irlandês no seu romance  Ulysses. Ao cultuar a arte vegetal, Flor transi ta entre países desmatados (Portugal e Irlanda) e busca uma linguagem que possa reativar as antigas árvores abatidas nos dois países. Medeiros, ao retomar no livro esse personagem português, tenta imaginar como soaria no mundo atual a música mítica q ue Enrique Flor tocou em Dublin no início do século XX. Completa a proposta um poema “desmaterializado”, em que a atuação dos vegetais é diretamente registrada nas páginas do poema, embora, à primeira vista, essas mesmas páginas (folhas) estejam em b ranco.   Na terceira proposta, “[O] rio perdido”, o poeta fala de uma ninfa andina que envelhece com os rios, tornando-se finalmente uma imagem quase apagada numa rocha sobre um leito seco. Povoado de falas, o rio, ao ser descrito antes do fim, borbulha eloquentemente, trazendo na sua correnteza falas do futuro que fazem uma reflexão sobre a vida na Terra.  Feito de  sinais gráficos que denotam não apenas borbulhas, mas também bocas, ouvidos etc., o poema é a descrição de um rio que arrasta infinitamente sons, imagens, enigmas... Sérgio Medeiros tem vários livros de poesia publicados. Ganhou o Prêmio Literário Biblioteca Nacional 2017 na categoria poesia, com a obra  A idolatria poética ou a febre de imagens  (Iluminura s, 2017). 

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Autor Medeiros, Sérgio
Editora ILUMINURAS
Idioma Português
Encadernação BROCHURA
Páginas 218
Ano de edição 2021

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Trio pagão